Repo Men e mais uma visão do futuro tecnológico

Repo Men e mais uma visão do futuro tecnológico

No Domingo de Dia dos Pais (08/08/2010), após o almoço, iniciou a sessão de filmes na casa dos meus pais. Começamos com  Clash of Titas (2010) e terminando com Repo Men (2010). Este último o cerne deste artigo.
 
O que esse filme tem de interessante? Muito! Sua mostra de que é uma produção aquém do que estamos acostumados, se dá no início onde seu protagonista mostra o que faz no trabalho de remoção de órgãos artificiais.
 
Remoção de órgãos artificiais, o que é isso? Poderíamos pensar, baseado nas lembranças de Bicentennial Man (1999), que você espere um robô ser desativado (obsoleto) ou alguém que possua órgãos artificiais (que nos lembra o atual transplante de órgãos e tecidos) morrer, e assim poder realizar o procedimento adequado de remoção do(s) órgão(s).
 
Mas em Repo Man, o Coletor (assim chamado em tradução para o Português) assemelha-se a um agente policial portador de armas de paralisação por descarga elétrica e uma mala de equipamentos cirúrgicos. Estranho não? Mas assista ao filme e comprove. Você certamente se perguntará da carnificina limpa, assim chamei a forma como eles agem durante uma remoção.
 
Adiantei-me, mas vamos ao assunto em detalhes. A obra retrata de uma empresa que desenvolveu e comercializa qualquer tipo de órgão, qualquer mesmo, há uma coadjuvante que resolveu trocar seu sistema de visão e audição apenas por capricho, ou “melhorias”. Esta empresa oferece os órgãos aos necessitados ("fuja da fila do transplante", imaginei esse slogan) em duas formas de pagamento - a vista ou a prazo - porém o alto valor (na casa dos milhões) dos órgãos artificiais faz com que as pessoas optem pelo plano a prazo, que possui carência de 90 dias e tudo.
 
É quando a carência acaba que inicia a história. Quando você compra um carro e não tem condições de pagar, a quem você deve tem o direito de pegar o carro de volta, certo? Então, em Repo Men, a empresa dona dos órgãos artificiais até você quitar sua divida, após três notificações por falta de pagamento, tem todo o direito de ir até você tomar seu órgão artificial como parte do contrato assinado por você para garantir sua vida.
 
No jargão da palavra, ai vem à parte escrota da história! O Coletor caça o devedor aonde quer que ele esteja e ao encontrar, digamos você, terá duas escolhas: ou entrega o órgão por bem ou por mal. O problema, no meu ponto de vista, é que até a opção por bem, não é tão bom assim. Como uma coisa por bem não pode ser boa? Imagine você portador de um órgão artificial pago na forma a prazo e que você acaba não conseguindo pagar e a empresa da qual você comprou tem todo direito mandar um cara vir pegar o órgão onde quer que você esteja e você não será levado a um centro cirúrgico para realizar o procedimento de remoção do órgão artificial.

Imaginou a cena?

Foram as cenas mais agonizantes que já vi, no meu ponto de vista superou qualquer coisa de qualquer uma das versões de Saw (Jogos Mortais). Ainda não deu para imaginar? Serei direto: o cara, por bem ou por mal, vai te botar no chão e vai abrir com um bisturi - ou uma faca de cozinha,  em uma cena do tipo trabalho em casa -  a região onde se encontra "seu" órgão artificial; vai tirar o órgão e vai deixar você lá (ponto). Ah, tem um detalhe, consciente ou não, o Coletor irá dizer que por lei ele tem a obrigação de lhe informar que você tem direito a chamar uma ambulância para ficar de prontidão, para levá-lo ao hospital mais próximo (como se adiantasse, me lembrou muitas das leis brasileiras).
 
Vendo estas cenas,  me inspirei a escrever este texto, pois eu sempre vejo a tecnologia de dois modos; ou ela vai ajudar você, ou ela vai ajudar você, mas na segunda opção há um preço muito grande a se pagar e, em Repo Men, esse preço é a vida.
 
As vezes eu vejo a questão de órgãos artificiais numa forma de enganar a morte sustentando a vida. Porém este é outro assunto. Mas a de convir que seja assustador você poder viver porque uma máquina o mantém vivo mas que se você não paga, você morre. Não sou contra o desenvolvimento de órgãos artificiais, mas em Repo Men vemos um cenário que pode se tornar real da forma como a sociedade vem encarando as relações de consumo-sociedade, onde cobrar o que lhe tira a vida é apenas uma questão do direito de cobrança, e o direito da vida, esse pode ficar esquecido; deixo como dica de exemplo, observar alguns “direitos humanos” aplicados no Brasil que vemos nas notícias diárias de violência urbana e rural.
 
Voltando a falar sobre o filme, o protagonista decide largar o trabalho por razões familiares e em seu ultimo trabalho, remoção de um coração artificial de um ídolo, seu amigo de trabalho arma para que o desfribilador que pararia o coração a ser removido, dê uma descarga elétrica, o que acaba na parada do coração do Coletor.
 
Agora o cenário é outro, quem coletava passa a ser uma possível vitima de um amigo de trabalho, e é o que acontece por longas caçadas e fugas eletrizantes, passando por acesso ao cofre impossível de ser acessado e terminando em um final do tipo vamos curtir as praias do caribe.
 
Mas o que assusta é quando você acha que o filme esta terminando, surge uma espécie de falha de imagem que se trata da regulagem de sensores de uma rede neural, apresentada no filme em um comercial como um novo produto, implantada na cabeça do protagonista e que boa parte do que mencionei acima sobre eletrizante, não ocorreu.
 
Quando vi estas cenas, fiquei imaginando mais sobre o futuro e que algumas coisas do tipo não estão longe de acontecerem. Lembrei até de assuntos como eutanásia onde você tem direito a cerrar sua vida se achar necessário se estiver em situação crítica quanto a saúde. Mas quando você vive uma realidade paralela que você acha que esta tudo bem, que direito você tem além de apenas aceitar a realidade imposta?
 
O filme vale a pena ser visto, sei que acabo aqui tirando algumas surpresas do filme, mas conferir na real será ainda muito válido para pensarmos sobre o futuro que nos aguarda, gerado pelas nossas criações.

Au Revoir

5 comentários:

Fábio Ferreira disse...

Achei que o interessante nesse filme foi mesmo o final, onde o cara imagina que tido deu certo, mas na verdade quase nada ocorreu.
Lembra a alegoria do cerebro em um barril (que não lembro o autor) também retratado em Matrix.
Não é dificil imaginar que a humanidade realmente tende a este ponto, substiruir orgão por artificiais, isso não é tão dificil, pode acreditar. A questão de como será tratado a relação cobrador/devedor, deverá ser adaptada para esse cenário.
Vendo este filme eu fiquei muito curioso para ver como iremos chegar a isso.
Abraços...

Glauber Duarte Monteiro disse...

Bem lembrando! Realmente é a premissa da alegoria citada. Buscando achei... "... Cérebro num barril é uma alegoria de Hilary Putnam (que, na verdade é uma evolução da teoria de René Descartes) que assume a possibilidade de todos sermos simplesmente um cérebro dentro de um barril ligado à máquinas capazes de enviar impulsos eléctricos iguais aos que o nosso corpo costuma receber. ..."

Também fiquei curioso, a questão dos órgãos artificiais realmente não está longe, hoje é possivel encontrar membros biomecanicos, chips de codificação de fala-audição, e tem até o cara que enxerga pela lingua http://digs.by/bd5ttY . Enfim, só o que nos resta a fazer é esperar ou participar do desenvolvimento de tais artefatos, e não deixar o cenário cobrador/devedor do filme ocorrer na vida real.

Quilômetros-a-Pé disse...

ei, seu puto! eu linkei teu blog ao meu!

seja bem-vindo ao fantástico mundo dos desocup............ blogueiros!




att,
Rafael Alexandrino Malafaia,
Quilômetros-a-Pé,
Theurge Andarilho do Asfalto Fostern da Seita do Escritório da Pedra dos Registros e do Trovão da Memória (i.e. UFPA)

João Bosco Maia disse...

Estive já por aqui e cá estou outra vez. Belo espaço para a "tela grande", para as letras, para o pensamento, para tornarmos mais claros nossos caminhos... Ao mesmo tempo em que te mobilizo para removermos este triste índice de 2 livros/ano por leitor brasileiro (na Argentina são dezoito livros/ano),
te convido a conhecer meus romances. Em meu blog, três deles estão disponíveis inclusive para serem baixados “de grátis”, em formato PDF.
Um grande abraço e boa leitura!
João Bosco Maia

xjosephx disse...

feliz holi

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